terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

BÁSICO

Meu karma me divide, feito fossem cortes de gado. Assim como postas retalham meus pedaços escolhidos e , mais que isso, selecionados.


Bem mais que o risco de giz sobre a imagem da rês, quem me fez retalho não o fez por ato falho. Foi intencional, proposital, estudado e incluído em alfarrábios e enciclopédias, não as médias, mas aquelas de tradição secular.

Assim, repartido em muitos é meu lugar, separado em bifes, em cortes, em blefes e sortes, nem todos tão aleatórios assim, posto que blefes são ciência a mais exata, a mais circunspecta matéria que jamais nos fez cátedra em escola.

Declino da esmola, recomponho o que me resta de dignidade, rememoro minha idade e tento me dar ao respeito. A gente nasceu assim, não tem jeito. Nem que eu pleiteasse um lugar pequeno e subserviente na comunidade enorme dos contraventores de oportunidade, teria aceitado o direito

Tempo passa, responde e sabe.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O POTE DE OURO

Reservo um minuto. Não haverá os regozijos da vida premente nem tampouco as negruras do luto recente que me tire desta reta, desta meta a atingir, ainda que relutante, a alegoria do instante em que um sim seja apenas um sim.


Águas passadas, revoltas ou mal paradas são sempre água em sua mais pura essência. Sempre e em qualquer condição carregam consigo a consciência da força inexorável que as move, mesmo que o contrário se prove em tantos e tantos sofismas.


A força, como a das águas, é superior à das cismas, dos preconceitos, até mesmo dos direitos forjados e forçados por regras juridicamente justificáveis, embora deploráveis em seu cerne mais profundamente alcançado. A razão sempre estará ao lado de quem se julga minimamente razoável, minimamente explicável aos poucos que se rendem à sedução de argumentos lógicos.


Mas a presença dessa razão, dessa lógica, de qualquer argumento consistente, jamais será suficiente para empreender uma cruzada de redenção dos seres.


Portanto, vencem sempre os discursos mais sedutores, de maior retórica, por mais tola que seja, ante a fala serena e circunspecta dos verdadeiros doutores, dos efetivamente doutos.


Assim se fazem heróis, a partir de imbecís que carregam apenas a seu favor o poder da sedução barata. Porque é baixo, muito baixo o preço do apoio dado pela turba ignóbil e grata pela filigrana colorida que lhe foi ofertada qual fosse um tesouro, um pote cheio de ouro, daqueles que estão lá à disposição de quem lograr o encontro do ponto de chegada do arco íris.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

De Cidades e Pessoas

As cidades e as pessoas são iguais. Diferem, talvez em pormenores, nas coisas menores, mas sabemos que são sempre as mesmas. As mesmas ruas, o mesmo casario, o mesmo sonho, o mesmo desvario e a mesma realidade.


Não há que se contestar a cidade. A vida urbana se repete como se fora uma enquete entre seres idênticos, ardentes e céticos a um mesmo tempo. O espaço se contrai de uma urbanização a outra, diferindo em questiúnculas, mas iguais nas mesmas agruras, seja no cortiço, seja no apartamento, seja na casa com jardim ao relento. De alguns desses lugares vemos estrelas, de outros apenas desejamos vê-las. De alguns há um pedaço de firmamento e de outros, ricos que são, nem ao menos um momento.


As cidades e as pessoas são iguais. Diferem nos sonhos de consumo e, o que é incrível, quem tem mais sonha ser como quem tem menos e quem tem menos sonha demais.


As cidades e as pessoas são, não mais, do que a amante idealizada, morta quando consumada, esquecida e enterrada, mas presente, viva e sã.


As cidades e as pessoas são uma idéia vã. Benquista enquanto desejada, necessariamente esquecida quando consumada. As cidades e as pessoas, são águas passadas, tantas águas iguais no seu rufar, tanto agressivas em sua enchente, tanto as mesmas quando águas passadas, apenas passadas na vida da gente.