sábado, 18 de abril de 2009

Já ouviste?

É preciso ter as tampas destravadas, seja por vácuo ou vapor, seja o que for, é necessário que se abram as compotas, as conservas. Não será em malas ervas que receberemos a benção do bem estar. Será em outro lugar. É preciso ter as tampas com as instruções precisas, afinadas, concisas, para que não se erre o caminho, para que o caminho não se emperre. É preciso ter as guardas aguçadas, mas não excessivamente iradas a ponto de barrar o que é recreio. É preciso ter receio, mas não tanto. É preciso, insisto, ter um que de encanto, um qualquer coisa de magia, uma pequena elegia, um manto que te guarde para o inverno. É preciso às vezes vestir terno, tantas vezes quanto importa estar nu, que seja por sob a cintura, que seja a tua agrura que me leve a desnudar apenas o pequeno lugar. É preciso que te entregues, que venhas sem peso ou medidas, que venhas sem tuas desvalidas manias, que venhas pelo que preferias a estar só e só supor. Já ouviste falar de amor?

Querubins

É morto o teu querubim descalço, flagrado no percalço do assobio que o chama e o pilha assim, sem setas, sem metas e sem alvo em quem se mire. É morto o teu querubim pequeno, o feno que alimentava alazões, os campeões e azarões da prosaica contenda, que de tua tenda observavas e torcias. É morto agora o sonho em que ainda te fias e nesses confusos fios, sem rocas ou fusos os faz difusos. Mas é morto o teu querubim alado. Prostra-se de lado na inércia dos não vivos. É morto o teu querubim querido. É ido o teu sonho. Que pecado.