quinta-feira, 19 de junho de 2008

Almas costuradas

Quando, além dos corpos, as almas se aproximam, as mãos se entrelaçam e costuram a união. As bocas e línguas se comunicam em um dialeto silencioso, onde as palavras são simultaneamente pronunciadas, simultaneamente compreendidas. Conversam com todo o corpo, buscando os cantos mais compreensíveis, os recantos mais plausíveis da comunhão perfeita. Parte por parte o corpo se ajeita e oferta ao corpo da outra alma, a calma prevista, esperada e realizada.

Adentro. Dentro sé é recebido e acarinhado, envolvido e agasalhado da maneira como só duas almas costuradas poderiam se tratar. E dançam essas almas quase infantes, dançam como muito antes se embalaram inocentes, como se fossem crentes na eternidade da beleza que a melodia, pura melodia, insinua.

Alma nua dentro de alma nua, inda que corpos se afastem pela peculiar rudeza que compõe os corpos físicos, parte de um permanece no âmago do outro. Gotas indeléveis ainda que não férteis de outras almas, mas prenhes daquilo que intuímos mais, se acomodam. E corpos se aninham, almas se espreguiçam e se abraçam.

Costuradas uma à outra permanecem. Tecem a história da memória e do futuro, da inexistência de muro, da presença de momentos que, por si, são movimentos dessa eterna sinfonia que só tempo, muito tempo, propicia. Tudo novo, sempre novo embora o mesmo, a cada dia.

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