terça-feira, 30 de junho de 2009

Rugas

Sem querer, franzo o cenho. Mudo o desenho da fronte, mudo a mudez do momento, deixo de ser só o intento de parecer calmo e nobre. Minha face agora é pobre, com rugas impostas à testa que buscam, sem fé, horizonte, porto seguro, terra à vista.

Dista de mim qualquer monte Pascoal, distam as aves, sinal de caminho completo, me arrependo de ter seguido reto, a despeito dos sextantes, dos astros, das cartomantes, e dos infantes prematuros. Apenas franzo a testa e observo no escuro.

Naves e chaves de paraíso, caminhos e percalços do excesso de juízo, são meus grilhões. Vejo-me preso ao porão, ao purgatório com as mãos de tal forma atadas, que fossem quais fossem as desvalidas batalhas com os corsários da vez, melhor ter sido trespassado por espada de bandido, do que ficar, sem sentido, me arvorando de altivez e de tal forma sem força, sem poder, sem ter a vez de ameaçar o destino, ao qual hoje me reclino, aceito e digo que é certo o que fez.

Me acanho de tais escolhas, poucos vinhos, muitas rolhas, nenhum corte na garganta, apenas a vida santa sem martírios que me canonizem ou faça lembrado.

Permaneço deste lado, fronte cerrada e séria, no fim a mesma miséria de qualquer herói ou bardo, de qualquer santo ou bastardo, que tenha sonhado a aventura, mas tenha se atado ao mastro, para calar as sereias, para ter ainda nas veias um sangue para ser jorrado.

Agora, viro de lado e vou dormir, porque é tarde, sei que a alma ainda arde, mas o sono me consome. Agora, mudo de nome e volto porque preciso. Não me basta ter juízo, é preciso ter coragem e uma imagem que observo, da qual sou mais que cativo, sou servo, para que ainda me ameace e me relaxe um dia, enfim, esses músculos da face.

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